lugar de encontro de emoções: vividas, sentidas ou simplesmente imaginadas
"Contextualização sócio-económica da Região na obra de Miguel Torga, a evolução actual e a preparação para o contexto futuro"
Arquivo Distrital de Vila Real - 14:30
P.S.: Quando perguntei ao professor o que ele achava do facto de, nós portugueses, pretensiosos poliglotas, fazermos desmesurados esforços para tentar falar espanhol, redondamente respondeu ser isso um absoluto absurdo porque, a língua é a nossa identidade. Mais nada!
Mesmo no fecho deste post, demos um salto ao site da Agal e ainda hoje, constatamos: Pessoas de diferentes colectivos galegos constituem a Associação Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa.
As palmas até poderiam ser estas!
Agora, a bola de carne, o pão cozido no forno ali ao lado, a chouriça assada, as castanhas assadas e um deslumbrante licor de café, tudo isto numa taverna com Anxo Rei a interpretar as músicas do seu álbum, tornou o serão inesquecível.
monge
Paraíso da Palabra
A palabra é celme da existencia, flor da auga do manancial da vida, foula que acariña o alento e nos enche a casa de gabanzas.
Se vestimos de silêncio a voz morrinã, morrerá a emoción, o sentimento, pois será sentido de distinta forma e distintas serán as personas faladoras.
Se orbalho ou orbalheira abandonan os nosos beizos, deixará de orbalhar na nosa terra, nas cabezas, nas entranãs, para pasar a ser simplesmente outra forma de chover, algo mais maina.
De secarem os loureiros gloriosos e os sagrados sabugueiros ateigados de sanxoáns, perderá unha fatia o arco da vella e ficaremos sen remedios para a doenza.
Como saberemos dos rios de auga pura e clara onde moran as bogas e as xanas, se deixan de medrar longos amieiros?
Onde procuraremos o acougo da sombra fresca se tronzamos os carballos?
Se as rolas deixan de cantar nas polas enramadas, como habemos arrolar as noites da desconsolada infancia?
Coa desaparición da brétema, que enfeita encostas e valgadas, marcharán e o misterio a terras afastadas.
A luarada sementa luz en branãs e varcias, cavorcos e chairas, e pinta de prata as gavelas de toxos, xestas e carqueixas.
A raxeira do sol trae rechouchíos de lavercas que non paran de peneirar nubes e ventos até a chegada do solpor.
Se esquecemos o pequeno e festeiro rairo, quen alegrará as tardes das mil pozas de oucas e rabazas, de auga mansa?
Se lhes pomos lume ás seras de pan, onde aniñarán os fugaces paspallás?
Con que van enredar as mans cativas se non hai estraloques nen cichotes?
Como animaremos os caminõs de lama dos arrieiros sen asubíos, sen esgutíos?
Como van falar de amor os namorados sen amoras, sen morangos encarnados?
Se ocultamos as xoaniñas e as borboletas, como imos ver as cores do espírito da fala?
Se deixamos que morran as palabras herdadas, alfaias de tempo e son coas que campa a alma, estamos condenados. Seremos olladas embazadas, mentes atoldadas. Mar de bágoas alagará a luzada.
por Delfin Caseiro
É com este magnífico texto que Delfin Caseiro, outro autor de Límia e incansável cicerone de toda a jornada, abre a modos de prefácio o álbum de Anxo Rei, todo ele musicado com letras do poeta Antón Tovar. Muito bom!
monge
Já tinha lido sobre Mia Couto, mas nunca tinha lido Mia Couto. E, simplesmente, fiquei encantado. Bem que me avisaram quando me ofereceram o livro: - olha que é um autor com uma linguagem muito fértil; um inventor de palavras e de termos. E realmente, ao longo da leitura, os seus neologismos não cessam de nos surpreender, se não vejamos: ... letrinhei, ... desentretanto; ... devagaroso; ... tudo irresultou; ... ela se tinha imensado. Ou então expressões: ... metida em vara de sete camisas, ... promete mundos sem fundos ... às duas por muitas, ... tudo a pratos lavados, ... .
O que não me disseram foi que, parece ser um autor que se preocupa em interpretar a verdadeira natureza das coisas, para as quais consegue arranjar definições de original beleza.
"Necessitamos não do nascer do Sol. Carecemos do nascer da Terra."
Como isto dos posts é como as cerejas, por estes dias, caiu-nos no colo (e no goto) este título que também versa (a apaixonante) temática da Inquisição.
Não nos pareceu, um filme só sobre Goya, mas sim um retrato da Espanha nos finais do Séc. XVIII, ainda subjugada pelo intolerante e impiedoso espectro do Santo Ofício e pelo entrecuzar das invasões napoleónicas e os ideiais revolucionários.
Além de uma excelente fotografia, revela-nos também magníficas e sóbrias interpretações. Vale a pena!
monge
Abstract:
Obs.: «As Putas do Diabo», era o nome com que Lutero designava as bruxas do seu tempo por terem supostamente relações sexuais com o demónio.
"A tolerância é sempre um indício de que um poder é visto como seguro; quando se sente em perigo, nasce sempre a pretensão de ser absoluto; nasce, portanto, a falsidade, o direito divino do seu privilégio, a inquisição."
M. Frisch
Nota: O título divulgado foi o segundo a ser "pescado", em virtude do primeiro, não ter as páginas necessárias ("História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar" - Luis Sepúlveda).
monge
"O Simbolismo, que ocorreu em período de transição do séc. XIX para o séc. XX, rejeita as correntes materialistas, racionalistas, empíricas e mecânicas trazidas pelo avanço da ciência da época e valoriza valores e ideais que estavam esquecidos: o espírito, o sonho, o absoluto, o nada, o bem, o belo, o sagrado etc.
A origem dessa tendência situa-se na aristocracia decadente e na classe média. Essas camadas sociais, por não participarem da euforia do progresso materialista, que solidificou o poder burguês, propõem a volta da supremacia do sujeito sobre o objeto, rejeitando desse modo o desmedido valor dado às coisas materiais.
Por isso, os Simbolistas procuraram resgatar a relação do homem com o sagrado, com a liturgia e com os símbolos. Buscam o sentimento de totalidade, que se daria numa integração da poesia com a vida cósmica, como se ela, a poesia, fosse uma religião.
Dentro dessa nova concepção da realidade e da arte, as correntes materialistas racionalistas não correspondem às exigências Simbolistas e isso faz com que eles sejam criticados pela sociedade, que chegou a clama-los de malditos ou decadentes.
Apesar de ignorar a opinião pública e fechar-se, numa quase religião da palavra e de suas capacidades expressivas, os simbolistas não conseguem sobreviver por muito tempo. O mundo presencia a euforia capitalista causadas pelo o avanço científico e tecnológico, a burguesia vive um período de prosperidade, a "belle époque", e isso só terminaria com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914.
É nesse clima que o Simbolismo desaparece, porém, deixa para o mundo um alerta sobre o mal trazido pela civilização moderna e industrializada. Eles deixam também perspectivas literárias que abrem as portas para o surgimento de novas correntes literárias e artísticas.
A Primeira Guerra Mundial, simboliza o mal trazido pela civilização moderna e industrializada e marca o fim do simbolismo."
Mas o Simbolismo resiste à visão materialista e hegemònica do mundo. Simbolismo que se manifesta com violência: Sinal de impotência face à ditadura da razão. Simbolismo necessàrio num mundo onde o progresso cientifico e tecnològico nos afasta, em vez de nos aproximar, cada vez mais da realidade. A não ser que a realidade seja um mito (tudo é ilusão...) e o "afastamento" provocado pelas novas tecnologias da informação, nomeadamente, seja uma forma simbolica de o conquistar. Tendo no virtual a sua expressão màxima e contemporânea. Mas duvido!...
Abraço concreto ,
eremita
Um homem muito rico recebeu, um dia, a visita de outro homem. Este vinha pedir-lhe auxilio e contou-lhe, nervosamente, amachucando o chapéu entre as mãos, as desgraças que lhe tinham acontecido. Se o senhor Jerónimo – era o nome do homem muito rico – quisesse, podia salvá-lo. De contrário, teria de vender a sua casa, as suas vacas, a sua terra. E a mulher e os filhos ficariam na miséria.
O senhor Jerónimo ouviu, contrariado, o que o homem lhe contava, e respondeu-lhe, de mau humor, que o não podia auxiliar.
O homem ficou-se, por momentos, de olhar vago e triste, olhando para o chão. Depois, agradeceu e saiu. E o senhor Jerónimo, à janela, viu-o caminhar curvado, pela estrada que ia dar ao monte onde o homem tinha a sua casa.
Nessa noite, deitado na sua cama, o senhor Jerónimo não conseguia dormir. Vinha-lhe ao pensamento o olhar triste do homem que lhe pedira auxílio, e, no silêncio da noite, até o tiquetaque do relógio parecia mais forte do que nas outras noites. Mal-humorado, o senhor Jerónimo murmurou:
- “Que tenho eu com as desgraças de cada um”?
Era como se respondesse ao tiquetaque do relógio, que parecia bater mais forte para o censurar.
Fora, o vento que se levantara fazia gemer tudo onde batia.
O senhor Jerónimo sentou-se na cama. Os ruídos em volta aumentavam, o tiquetaque do relógio parecia cada vez mais forte.
- Eu dou em doido! – disse o senhor Jerónimo.
Depois teve um pensamento. E como por encanto, os ruídos em volta serenaram e o tiquetaque do relógio parecia agora vir de longe. O senhor Jerónimo levantou-se e vestiu-se. E saiu. E seguiu a estrada que ia dar a casa do homem que lhe pedira auxilio. Bateu à porta. O homem abriu-a. E o senhor Jerónimo disse-lhe:
- Pode contar comigo.
E voltou para casa. Quando voltou a deitar-se, pôs-se à escuta. O vento, fora, serenara, já não batia nas coisas e todos os ruídos, em volta, se deixaram de ouvir. E o próprio tiquetaque do relógio era suave como se tivesse receio de incomodar. E o senhor Jerónimo adormeceu tranquilo.
José de Lemos, Pequeninas Histórias de Amizade
Obs.: Texto seleccionado para a ficha de avaliação intermédia.Imagem retirada da net.
monge
"Barco de quilha para o ar, que a natureza voltara a meio do vale", este miradouro tantas vezes visitado por Miguel Torga, outras tantas lhe serviu de inspiração para com pena, ai lavar a sua alma.
Absolutamente belo!
monge
Lembro-me de horas alegres.
Na procura constante,
vejo-me de mãos cheias de consciência
com os olhos fechados na dor,
à procura de harmonia.
Sinto na carne, as angústias da alma
como uma vela acesa ao luar.
Cânticos e orações que rezo,
de longe, para não ficar
com um sorriso meigo de criança,
que apregoa o esplendor,
que urge a esperança de viver,
mas que se torna real
com a vontade de chorar.
Então,
no desespero da manhã,
vejo no espelho, a contradição
dos pecados sofridos.
No entanto, vejo-Te.
monge
TÍTULO DO FILME: O NOME DA ROSA (The Name of the Rose, ALE/FRA/ITA 1986)
DIRECÇÃO: Jean Jacques Annaud
ELENCO: Sean Conery, F. Murray Abraham, Cristian Slater. 130 min.
«Para representar o vento temos de nos tornar uma tempestade. Para representar um peixe temos de nos atirar para o oceano».
Au revoir Marcel.
monge