13.2.12


Gosto de sonhar. Sem dúvida!
Se nós lhe pertencemos, de certeza que antes de lá chegarmos, já ele sabia que nós iamos. O sonho.
Acordá-mo-lo sem querer, desejámo-lo sem o ter e acabamos por não o viver. O sonho.
Ao acordar, traz-nos o despertar, a vista do mesmo olhar.

monge

12.2.12

Com esdrúxulos sentimentos, alguém terá dito que todas as cartas de amor são ridículas. Tal como essa Pessoa, também eu escrevi cartas de amor, bilhetes de amor, poemas de amor. Só me faltou a coragem de entrar em cena com a minha sensibilidade à flor da pele para assim perpetuar a tinta da china o que, se calhar, hoje também julgaria ridículo.
Porque me perco quando vou de encontro aos livros e porque me encontro nas palavras sublinhadas, nas lembranças dos marcadores que cada um contem, deparei-me ontem com um bilhete de amor silenciosamente aconchegado n'O Inverno do Nosso Descontentamento  de Steinbeck. E como tudo veio por arrasto, esse livro trouxe-me tempos em que mansamente deambulava pelos alfarrabistas da Rua da Fábrica e da Rua do Almada, onde encontrava aqueles livros que me procuravam a mim. Livros lidos e usados, escritos ou rabiscados, amados ou odiados ... enfim, livros!
E nesse reencontrei este poema (o tal marcador), folha lisa e rasgada de um bloco com argolas, cujas letras a lápis não terão sido passadas a limpo pelos olhos de quem as deveria ter lido.

E fielmente diz assim:

Corre mansamente
O ribeiro pela encosta
Levando consigo e envolvendo
O sabor da tua boca.

Deixaste-me em silêncio
Deparando o meu amor
Partindo e chorando
E acalentando esta dor.
Pela encosta abaixo
Corre o ribeiro, meu amor.

A saudade bate forte
choro a tua ausência
olho as águas lentamente
do ribeiro, meu amor.

Passa o tempo, corre a vida
A tortura desvanece
À espera que chegue o dia
desse amor que me enlouquece.
Lentamente pela encosta
corre o ribeiro meu amor.