31.3.10

Gritarei,

com intimidade poderosa,

corpo tingido pelo tempo.

Talvez, talvez por isso,

vou derramando ansiedades,

silaba por sílaba, escuto

ausências graves sem parar.

Em frente, encontro estranho;

palavras sufocadas,

vertigem primeira da dúvida,

certezas albergando coragem,

arrastadas pela vontade.

29.3.10


O presente é uma aventura.
O passado é o que se lembra.
E o futuro?
O futuro lá há-de vir.

28.3.10

boas notícias


"Boas notícias. Está tudo controlado. Só devo fazer mais exames mais profundos para confirmar as boas notícias. O bicho está liquidado. Abraço. Obrigado pela força.




A vida é mesmo um lugar estranho!

Quinta-feira passada, ainda a recuperar de uma cabidela bem regada da noite anterior, aproveitei para me refastelar no sofá enquanto fazia horas para ir buscar os garotos. Armado de comando na mão, pensado que ia dar duas voltas ao contador da cabo, à espera de encontar algo de jeito, nem sequer sai do Canal 1, onde naquele programa que tem o nosso país no coração, estava um convidado com quem eu simpatizo bué: o bacano do António Feio, o Toni da Conversa da Treta.

A braços com um problema oncológico, câncro no pâncreas, o actor estava a ser homenageado no tal programa, relembrando um pouco a sua carreira, com a presença de amigos e outras pessoas a ele ligados. Claro que tudo foram mimos e carinhos para com o actor. E na verdade ele merece!

Dos convidados presentes, fazia parte a médica que o acompanha há já algum tempo. Essa médica, de uma maneira sóbria e pragmática, foi de uma ternura sem fim. Acabou por agradecer ao actor o facto de ser seu amigo e disse que a vida é para ser vivida dia-a-dia, sem nos esquecer-mos, nesse dia-a-dia, de dizer às pessoas de quem gostamos, que gostamos delas.

Num desses momentos emocionados, lembrei-me de um amigo, que também está a braços com esse terríveis problemas oncológicos, ao qual já me referi num post anterior (coragem). No preciso instante em que pensava nele (que las hay, las hay!) recebo por sms o texto acima referido.

Amigo, não te vou pedir desculpa por partilhar a tua mensagem , apenas quero dizer que gosto de ti.

26.3.10

teatro 27

Pertence-me o dever de assinalar hoje o Dia Mundial do Teatro, anunciando aqui o 6º FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO 27, a desenrolar-se em Bragança, Chaves e Vila Real. Uma verdadeira oportunidade transmontana. A edição deste ano começa hoje, obviamente, com a peça OTELO de William Shakespeare levada à cena pelo ACE Teatro de Bolhão.

Essa obrigação resulta dos bons momentos que tenho usufruido com a oferta regular de convites por parte do Teatro de Vila Real para assistir a algumas peças. Para esta edição já recebi 3 convites duplos, os quais espero vir a poder consumir.

Antes de abrir o teatro de Vila Real, devo ter assistido a umas três peças em Bragança, no auditório Paulo Quintela, enquanto estudante. A partir daí, as oportunidades de desenvolver o gosto pelo teatro foram poucas, mas agora que há essa possibilidade, vejo-me a desfrutar de todas as emoções sentidas pela representação dos mais variados textos dramáticos.

Uma verdadeira catarse, ao estilo da grécia antiga, em que se purificava a alma pela descarga emocional sentida ao assistir a representações teatrais.

Ver programação: www.vinteesete.com

25.3.10

Embrace Life

Simplicidade magnífica!

Já mostrei aos filhotes cá em casa, pedindo-lhes que apreciassem e só comentassem no fim. Obviamente que a mensagem passou.
A propósito, calha bem contar aqui uma história.
Uns colegas meus, num sábado passado qualquer, vindo das compras são mandados parar por uma patrulha da G.N.R.
Um dos agentes, tendo-se logo apercebido que a esposa ia sem cinto, calmamente tira o bloco e começa a passar a multa. O marido lá tentou desculpar-se como pôde:
" - Sabe como é senhor agente, fomos só ali às compras ... a nossa casa é já ali ... é pertinho e tal ..."

O agente, impenetravelmente lá continua a redigir a multa, destaca-a do bloco, entrega-lhe dizendo:
"- Sabe! Ainda estive indeciso em passar a multa por falta de cinto da sua esposa ou retirar-lhe a si a carta por uma ano, já que um dos seus filhos não leva cinto na cadeirinha".
Ele, sem mais demoras, tirou imediatamente 120 euros do bolso e pagou.
Sinceramente eu não sabia que tais consequências eram tão pesadas. Ele concerteza também não. Mas deve ter caído em sido (como eu cairia) e não hesitou e perceber que a vida vale muito mais do que isso. Ele não é descuidado, como eu também não sou; ele tem putos traquinas, como eu também tenho; os quais num acto de atrevimento se podem, a qualquer altura, lembrar de desapertar o cinto.

21.3.10

Joel, o pastor!



O Joel Carneiro (de nome próprio) quer ser pastor ...

O Joel, natural da aldeia de Candoso, Vila Flor, quer ser pastor ... de cabras.

O Joel levanta-se às seis da manhã, e antes de ir para a escola, vai "acomodar" as suas cabras.

O Joel vem da escola, e antes que anoiteça, ainda vai pelos montes fora apascentar as suas cabras.

O Joel antes de se deitar, ainda se senta ao seu portátil e vai ao google pesquisar ... sobre cabras!

O Joel tem 16 anos, frequenta o 9º ano e tem um sonho: ser pastor. E o entrevistador pergunta: " - E na escola não te gozam?" Ao que o Joel responde: " - É um sonho como outro qualquer". Como se poderá motivar o Joel para os estudos? Por onde andará o pensamento do Joel quando lhe tentam impingir expressões numéricas, conjugações verbais, ou outras sorumbáticas matérias que não lhe cheiram a monte. Sim, porque o espirito do Joel é livre para para calcorrear prados e serras, por onde "se anda à vontade e se ouve o canto dos passarinhos" (dixit).

O que pode o Joel fazer pela escola? O que pode a Escola fazer pelo Joel? Julgo que pouco.

Enquanto os amigos do Joel, segundo ele, gastam o dinheiro em jogos para as plays, o Joel guarda-o todo no seu "peto", para mais tarde almejar um rebanho de 200 cabras. 200!!!

Para já, só tem 10, mas são todas dele. E a todas brindou com nomes diminutivos de acordo com as suas características físicas peculiares. Menos um cabrito. Tendo ao colo, afagando-o carinhosamente, disse que àquele não lhe pôs nome porque é o que vai ser sacrificado na Páscoa.

A vida é estranhamente sensível! Quem dera que a sensibilidade do Joel permitisse que todos pudessemos sonhar, e soltarmos os nossos sonhos por esses montes fora.

Sem dúvida que o Joel será um bom pastor.

20.3.10

Presente!

Já me penitenciei demasiado por tamanha ausência, mas a verdade, e curiosamente, tenho estado sempre presente.

Este regresso, sem dúvida, que se deve ao dia de ontem, mas não só. Senão vejamos.

Uma colega, que, apesar das suas formas cheiinhas, sempre conseguiu ser elegante e graciosa. No entanto, de há um ano para cá, emagreceu cerca de oito quilos, o que a tornou exponencialmente mais elegante, contudo sempre a mesma mulher. Como partilhavamos bons momentos de conversas, sobre leituras e outros temas interessantes, obviamente que a palavra dieta veio ao de cima. Apesar de não ser gordo, sou um bom garfo, e por tal, uma vez que a minha coluna vertebral é condómina de uma cifose, uma escoliose, e uma hérnia bí ... qualquer coisa, o ortopedista tem-me vindo a alertar: "-Evite engordar um quilo que seja".

Com estas palavras na cabeça, toca de perguntar à Isabel qual foi a dieta seguida para conseguir abater o tal peso. Apressadamente, e de uma forma natural, logo me disse:" -Eu não faço dieta. Eu não deixei de comer nada daquilo que comia, simplesmente passei a estar mais presente à mesa". E com essa me fiquei. Também eu pensava que estava sempre presente à mesa. E estava, mas era para consolar o palato e afagar o bandulho com duas palmadinhas.

Mas tenho vindo a pensar muito nisso: em estar presente. Sempre. Com todos. Em todo lado. Evitar esquecer-me, distrair-me ou desviar-me de onde preciso e quero estar.

E ontem, por ser o dia do Pai, que das mais variadas formas é festejada e relembrada, exigia-se a minha presença (era a minha vez) na escola do Manel para contar uma história à turma. A história que escolhi "A ovelhinha que veio para o jantar", versava o tema da amizade, era a versão romântica de uma velha que consegue eternecer o esfomeado coração do lobo mau, deitando-se-lhe no colo, com carinhos e beijinhos.

Sentado à índio, à altura dos meus ouvintes, acabada a história, vi-me de repente rodeado de alguma petizada que tentava carinhosamente encarrapitar-se-me nas pernas e pedindo, como só eles sabem pedir: "-Ó papá do Manel, conta outra vez!" Irrecusável!

Estava ainda combinado, que nesse dia seria o pai ir buscar os filhos à escola. Lá fui. Então a surpresa era: o pai sentar-se junto do filho, e ambos disfrutarem de um lanchinho composto por bolo e chá. Nunca tinha visto o Manel beber chá e nunca um chá me soube tão bem.

À noite, ofereci-me uma ida ao teatro, ver a peça "Reféns", pelo Teatro BRUTO. Ao chegar a casa, e porque por baixo de minha casa há uma café aberto até às 2 da manhã, vejo o carro de um amigo e resolvi ir beber um copo com ele. É um amigo recente, um sociólogo cultíssimo e solitário, a quem a vida já amadureceu. Se convivo com alguém culto, tento falar de cultura. E lá falámos de filmes, de livros, de viagens... Num qualquer espaço morto, saiu-me: "- Lá se passou mais um dia do Pai". Ao que o meu amigo retorquiu."- Não sinto necessidade de falar nisso". E também não senti curiosidade que o não quisesse ter feito. É que eu também não tinha necessidade de falar disso. É-me difícil falar de algo, do qual não tenho ideia. De quem não soube estar presente.

monge