Preguiça
"Os preguiçosos têm sempre vontade de fazer alguma coisa"
(Luc de Clapiers)
Por mais definições que se possam ter sobre a preguiça, julgo que qualquer ser humano a deva ter já experimentado ou até dela abusado exageradamente. No que me toca, não me considero preguiçoso, não aprecio muito os preguiçosos, mas também não a considero nenhum pecado mortal.
Contudo, lido diariamente com alguém que insiste em ser teimoso, a pontos de se socorrer da preguiça para justificar a sua falta de vontade. Neste caso, estou a falar do Manel, cuja birra para comer a sopa nos obriga à invocação de todos os santos e mais alguns.
À hora das refeiçoes, a disposição na mesa alterou-se obrigatoriamente visto que o Manel e o Pedro juntos era sinónimo de confusões constantes, o que perturbava o agradável e reconfortante momento da paparoca. Por isso, para evitar males maiores, vi-me obrigado a abandonar o patriarcal lugar de cabeceira da mesa para tomar o lugar do Pedro ( e ele o meu) a fim de evitar as picardias catraias.
Assim sendo, sento-me agora ao lado do Manel, o qual ainda tem uma cadeira vazia do seu lado esquerdo. Quando lhe dá para arranjar um pretexto para ganhar tempo para começar a comer a sopa (porque do céu venha o remédio, ele comer tem que a comer) alternadamente, lá se vai lembrando: tenho calor, tenho sede, a sopa tem couves, tenho preguiça ... deitando-se sobre a cadeira vazia ao seu lado.
Depois de lhe dizer a décima quinta vez para comer a sopa, e com a paciência já na reserva, deito-lhe vigorosamente a mão ao braço e obrigo-o a erguer-se da cadeira onde estava estiraçado. Com aquele ar de ofendido que ele tão bem sabe representar, murmura amuadamente:
- Magoaste a minha preguiça!
Como é que se pode magoar a preguiça de alguém? Pelos vistos pode. Metaforicamente, pelo menos.
monge