Hoje era dia de comprar cravos vermelhos!
- Boa tarde. Cravos vermelhos, tem?
- Cravos vermelhos não há.
- Já não há, ou não os teve hoje?
- Não há! Os que tive vendi-os todos. Até liguei para o mercado para arranjar mais e não consegui. Parece que se acabaram os cravos vermelhos em Vila Real! - respondeu-me a senhora.
Esta foi a última resposta que obtive na terceira florista que apressadamente visitei, após ter chegado à cidade. Ainda perguntei se amanhã estaria aberta para assim me poder guardar meia dúzia deles, mas o aceno negativo da simpática senhora intensificou o meu desalento.
Ao sair, já com a porta a fechar-se atrás de mim, ainda ouvi a colega perguntar-lhe num tom de indiferença:
- E já não se pode fazer o 25 de Abril sem cravos vermelhos?
Estive vai não vai para voltar a entrar e dizer-lhe que não, pois esse dia "fez-se" com cravos vermelhos e não poderá ser de outra maneira.Como tenho comprado a minha meia dúzia de cravos vermelhos neste dia, fiei-me na sorte de os continuar a arranjar.
O dia 25 de Abril, é o meu dia do ano. Além de todo o significado que representa, elegi-o como o dia em que mais gosto de sentir a liberdade em mim. Vai fazer vinte anos que neste dia, tenho a vontade de ir a sítios onde nunca fui, ver coisas que nunca vi, oferecer cravos a quem não conheço.
Para esses sítios levo os meus cravos vermelhos, os quais vou oferecendo a porteiros de museus, a seguranças de monumentos históricos ou deixado-os sobre a mesa dos restaurantes como gorjeta da minha singela liberdade. Penso que talvez desta forma se perpetue a nossa liberdade e não se passe um dia sem cravos vermelhos.
Vamos semear Abril!
p.s.: desobedecerei eternamente ao novo acordo ortográfico, pois Abril será sempre grande.
monge