2.6.07

Preâmbulo

A vida é um lugar estranho! Pois é.
Há palavras que encerram em si tanto significado que, quando lidas ou ouvidas, provocam tal efeito e desencadeiam tamanhas atitudes, não nos deixando indeferentes pela sua verdadeira intenção. Numa passagem do livro Até ao Fim (Vírgilio Ferreira) é dito por um dos personagens o seguinte: " a felicidade não se mede pela quantidade do que nos acontece de agradável mas pela quantidade de nós que responde ao que acontece". Absolutamente.
Não é este o sentido da vida? Não é esta a melhor forma de encararmos os prementes desafios quotidianos? Não será essa a capacidade de viver tranquila e intensamente? Talvez.
Cansamo-nos de diariamente nos interrogar, qual será o sentido disto tudo. Fartamo-nos de ouvir que a vida é isto, a vida é aquilo, a vida é tudo, a vida é nada, é um sonho, é uma farsa, é um martírio e uma lenta crucificação. Poderá ser tudo isso, mas de uma coisa fiquemos cientes: a vida acontece. Se bem que por vezes nos custe distinguir o sonho da realidade, não podemos abdicar da nossa condição vital de viver.
É redundante! Tudo bem. Mas não nos podemos limitar a uma simples existência sem sentir. Deixarmos que a vida nos absorva e nos sussure ao de leve todos os caprichos da sua vontade. Nem pensar! Temos que ser nós e temos que sê-lo logo, nem que para isso tenhamos que enfrentar perigos já experimentados. Temos que ser afoitos o suficiente para preferirmos aventurarmo-nos nas águas turbulentas do rio, em vez de permanecermos eternamente parados na margem.
Mas há dias em que somos docemente levados pela fantasia do sonho e da ilusão. Sejamo-lo também. Se somos capazes de sonhar, poderemos ser também capazes de tornar os nossos sonhos realidade. A vida é a única maneira de concretizar as nossas ilusões. Se temos por real o que existe, a ilusão existe porque é real. Além disso, todos nós sabemos que o sonho comanda a vida.
Pronto, chega de divagar. A génese deste blog surge pela vontade de partilhar todos os momentos que realmente nos tenham deixado qualquer marca na memória e a qual gostassemos de mostrar aos outros. E a memória tem raízes profundas!
Sem obedecer a qualquer temática, este espaço será aberto a todo o tipo de manifestação que se entenda livre e capaz de provocar nos outros sensações e emoções, a qual poderá surgir sob qualquer forma: imagem, fotografia, narrativa, poesia ou música. Isto é, tudo o que nos venha à cabeça.
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Fundação

Nem a propósito!

Ao decidirmo-nos por um post inaugural para o blog, vei-nos à ideia fundá-lo com uma breve referência a D. Afonso Henriques (filho de Henrique) responsável pela fundação do nosso país.
Ainda sou do tempo em que, nos manuais escolares, a estátua do nosso primeiro monarca, da autoria de Soares dos Reis, surgia como uma imponente figura, de semblante austero com o elmo brônzeo e a sua enorme espada, despertando em nós emoções valentes e remetendo-nos para façanhas lendárias. Dizia-se entre a garotada, que a espada desse valoroso rei era tão pesada que seriam necessários cinco homens para conseguir erguê-la. E foi essa ideia que prevaleceu durante longo tempo, levando-nos a imaginar as inúmeras batalhas contra a moirama despedaçada por essa enorme espada.
No passado 18 de Maio, no destacável Ypsilon do Público, saiu uma entrevista com o antigo monge beneditino e historiador José Mattoso, responsável pela biografia de Afonso Henriques(1) que, apesar de matéria escassa e de inúmeros episódios lendários sobre este assunto, conseguiu elaborar um trabalho com alguma consistência histórica.
Segundo o historiador, algumas narrativas da época dão a ideia que o o nosso primeiro rei seria um homem colérico, violento mas astuto, persistente e ambicioso, além de um execelente militar, apesar de provavelmente analfabeto e que se manteve solteiro até aos 37 anos. Ao que parece, não seria aquele gigante com dez palmos (uns dois metros) conforme reza a crónica de Santa Cruz, mas sim meão de altura. Além disso, também seria coxo, em virtude do infortúnio de Badajoz, em que numa queda do cavalo, teria partido uma perna. No entanto, morreu aos 76 anos, relativamente velho para a época e no seu epitáfio é comparado a Alexandre, O grande.
Uma equipa antropológica dos nossos dias quer, ardentemente, abrir o seu túmulo para conseguir uma imagem do rosto e saber das suas maleitas. Pois que estejam lá quietinhos com a roupa, porque sejam quais forem os resultados, ninguém me consegue tirar da ideia a sua majestosa figura, tenha sido ele baixote, coxo e analfabeto. Poderia tê-lo sido, mas pelo menos demonstrou tê-los no sítio (o que vai rareando nos dias de hoje) e a ele devemos o projecto de Portugal como reino independente, sem prestar vassalagem a nenhum poder superior.
Ah, valente!




D. AFONSO (HENRIQUES) I - O CONQUISTADOR

n. 1109 m. 1185

Reinado: 1128-1185


(1) MATTOSO, José, D. Afonso Henriques, Círculo de Leitores, Colecção Reis de Portugal.
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