1.10.07

"Porquê o Nome da Rosa"

“Escrevi um romance porque me apeteceu. Acho que é uma razão suficiente para alguém se pôr a contar uma história. O homem é um animal fabulador por natureza.” ECO
Interrogado sobre algumas questões interpretativas do livro, o autor prontamente responde sem deixar de perceber que o que fez, fê-lo com enorme sentido de responsabilidade. Quando indagado do uso de “diálogos cinematográficos”, não se coibe de explicar que ele mesmo reconstituiu esses ditos diálogos de acordo com uma medição exaustiva da planta da abadia, o que se pode verificar no próprio filme. E quando o confrontam com facto de a matança do porco ser em Novembro, mês ainda pouco frio para tal faina, ele, logicamente, alega que, daí é que se deve o facto de localizar a abadia em ponto tão alto (são mais as abadias em pontos baixos). Além de que, o sangue era muito precioso para o enredo, para assim seguir os “passos” do Apocalipse.
Sobre o título desta obra, Humberto Eco diz que “um título deve confundir as pessoas e não orientá-las” não querendo assim que o próprio título constituísse desde logo uma chave interpretativa. Acrescenta ainda que, a ideia do Nome da Rosa lhe ocorreu por acaso, o que lhe agradou imenso devido ao facto de a rosa ser um figura tão simbólica, tão cheia de significados ao ponto de já quase não ter mais nenhum.
Inicialmente intitulado como a A Abadia do Delito, mesmo assim, este romance não realizaria o sonho do autor que seria intitular a obra como Adso de Melk, um título muito neutro já que Adso era também o narrador: “Os títulos que mais respeitam o leitor são os que se reduzem ao nome do herói”.
- O que mais vos aterroriza na Pureza? – pergunta Adso.
E Guilherme de Baskerville responde:
- A pressa.
Com profundos conhecimentos da época medieval Humberto Eco utiliza isso com uma habilidade enorme, desde a utilização dos conceitos à simbologia da época, conseguindo assim, uma reconstituição histórica da vida daquele mosteiro do século XIV. “Não é verdade, mas podia ser”.
Julgo que, até ao momento, o Nome da Rosa é daqueles filmes que melhor corresponde ao livro não defraudando, em quase nada, a interpretação do "eu" leitor. E agora, a leitura deste pequeno título de Humberto Eco "Porquê o Nome da Rosa", veio a ajudar a melhor perceber algumas questões que poderiam ter ficado soltas ou até nem se levantaram. Adorei!
Porquê o Nome da Rosa, ECO Humberto, Difel 1991.
monge

7 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Este espaço já faz parte dos meus favoritos. Um lugar onde apetece vir passear. Como certas sombras à beira dos caminhos antigos....
Obrigado

avelaneiraflorida disse...

Amigo monge,

Adorei o livro! Foi uma leitura devoradora, e quase me esquecia do "policial" para me esgueirar por entre aquelas ruas, passar naquelas salas...enfim, estar no meu reino!!!!

Evitei por algum tempo ver o filme ! Receava, como geralmente acontece, que a minha Leitura ficasse desfigurada!!!
No entanto, posso dizer que não fiquei defraudada...talvez porque os intérpretes me agradaram!!!!
Continua aser uma das minhas obras de referência...mas,confesso, também tenho o DVD!!!

Bjks

monge disse...

Olà amigo monge!
O nome da rosa lembra-nos algures a "nossa condição de cenobitas"!...
Vi o filme, claro, e gostei. Na altura fiquei até bastante impressionado. Em termos cronològicos, gosto muito da idade média. "Idade das trevas" que foi no fundo, iluminada donde origem à renascença! Porque "...nada se cria, nada se perde, mas tudo se transforma", como diria o Lvoisier.
Quanto ao livro, confesso que não li. Talvez um dia quando tiver vagar (expressão bem transmontana para designar o tempo - esse espaço de liberdade sem ponteiros!)

Grande abraço
eremita

monge disse...

Olá méon

Sejas sempre bem-vindo a este espaço e que te possas reconfortar na frescura destas sombras após breves passeios.

Abraço

monge

monge disse...

Olá avelaneiraflorida

Realmente é um filme que não deixa as nossas expectativas defraudadas porque consegue transportar-nos para ambientes onde se vive intensamente a acção imaginada pela leitura do livro. Tudo no filme é extraordinariamente bem feito!

bj

monge

monge disse...

Olá amigo eremita

Também como tu, aprecio bastante as temáticas relativas à Idade Média e ainda mais as maquinações engendradas pela Inquisição que, tornaram essas épocas ainda mais obscuras. Quanto à nossa condição de cenobitas, cada vez se acentua mais, unindo-nos nesta confraria de partilha de vivências e de emoções.
Abraço companheiro

monge

Adelson Matias Souza disse...

Por que o filme "O Nome da Rosa" possui este título?

A obra tem como cenário a Baixa Idade Média séculos (XIII -VV), com seus problemas teológicos; gnsiológicos e metafísicos...
Em um primeiro instante, podemos relacionar o título do filme "O Nome da Rosa" com a 'rosa' bondade e ascese religiosa;
ou, com a "flor" mulher/paixão que se manifesta entre os jovens na trama.
Todavia, uma análise filosófica revelará que o título do filme "O Nome da Rosa" de Umberto Eco; que nomina sua obra literária homônima, faz referência direta a uma grande questão de lógica discutida na Idade Média: os Universais. Embasadas nas ideias platônicas e, posteriormente em Aristóteles, (lógica); os Universais seriam entidades metafísicas; essências separadas das cousas individuais.
Mais especificamente, buscava-se compreender a relação entre as palavras e as coisas. A discussão volta-se para o questionamento: as palavras (universais) podem verdadeiramente nomear conceitos gerais; ou apenas algumas classes específicas de seres? E ainda: se captamos singularmente pelos sentidos por que as expressamos com palavras universais? Assim, nascem duas posições,1) a Realista que defende que os universais existen em si mesmo; por exemplo, a palavra "rosa" existe na realidade (flor/pessoa), e também no pensamento.
2) Nominalista para quem o nome "rosa" é apenas uma convenção; palavras sem existência real. Para além dos discursos serem entidades metafísicas, ou palavras vazias..., os Universais possibilitaram uma discussão em alto nível que levaram nos ao entendimento e desenvolvimento lógico-linguístico. Umberto Eco com o seu O Nome da Rosa, alude em bases linguísticas e semióticas uma investigação racional sobre o conhecimento humanístico/científico/racional que faz fortalecer a razão autônoma. Adelson Matias Souza é professor de filosofia no Ensino Médio público.