25.4.12

Para sempre Abril


"Sei que não foi graças a mim
Agradeço a quem o fez
Eu vivo em liberdade
Para sempre ... talvez."

Rachel Andrade

Valeu a colega Odete que me ofereceu este cravo, ao qual vinha apensa esta quadra da aluna Rachel. À falta de outros, coloquei-o no tablier do carro onde permaneceu ao longo de toda a jornada.
Ainda bem que a Rachel tem na sua consciência a gratidão para com aqueles que lhe permitem viver agora em liberdade. Só espero que não se perca a vontade e a coragem para que consigamos que ela e todos os outros possam viver em liberdade para sempre ... sem talvez.

monge

24.4.12

Hoje era dia de comprar cravos vermelhos!


- Boa tarde. Cravos vermelhos, tem?
- Cravos vermelhos não há.
- Já não há, ou não os teve hoje?
- Não há! Os que tive vendi-os todos. Até liguei para o mercado para arranjar mais e não consegui. Parece que se acabaram os cravos vermelhos em Vila Real! - respondeu-me a senhora.
Esta foi a última resposta que obtive na terceira florista que apressadamente visitei, após ter chegado à cidade. Ainda perguntei se amanhã estaria aberta para assim me poder guardar meia dúzia deles, mas o aceno negativo da simpática senhora intensificou o meu desalento.
Ao sair, já com a porta a fechar-se atrás de mim, ainda ouvi a colega perguntar-lhe num tom de indiferença:
- E já não se pode fazer o 25 de Abril sem cravos vermelhos?
Estive vai não vai para voltar a entrar e dizer-lhe que não, pois esse dia "fez-se" com cravos vermelhos e não poderá ser de outra maneira.Como tenho comprado a minha meia dúzia de cravos vermelhos neste dia, fiei-me na sorte de os continuar a arranjar.
O dia 25 de Abril, é o meu dia do ano. Além de todo o significado que representa, elegi-o como o dia em que mais gosto de sentir a liberdade em mim. Vai fazer vinte anos que neste dia, tenho a vontade de ir a sítios onde nunca fui, ver coisas que nunca vi, oferecer cravos a quem não conheço.
Para esses sítios levo os meus cravos vermelhos, os quais vou oferecendo a porteiros de museus, a seguranças de monumentos históricos ou deixado-os sobre a mesa dos restaurantes como gorjeta da minha singela liberdade. Penso que talvez desta forma se perpetue a nossa liberdade e não se passe um dia sem cravos vermelhos.
Vamos semear Abril!

p.s.: desobedecerei eternamente ao novo acordo ortográfico, pois Abril será sempre grande.

monge

22.4.12

vontade de viver


Não quero dizer que não gosto de viver de uma forma sem pensar. Quero dizer que penso nesta forma de viver.
E vivo cada vez mais, cada vez maior.
Sem fazer de conta, não podemos negar a vontade de sentir. Aquela vontade que não podemos deixar para depois, onde queremos que nasçam todos os momentos que nos fazem felizes, aos quais devemos retribuir de qualquer forma. Nem que seja estranha.

monge

9.3.12


"Com a palavra, o homem supera os animais. Mas com o silêncio supera-se a si mesmo"

Paul Masson

O acto solitário em si, pode tornar-se um perpétuo exercício de raciocínio. Tudo depende!
Estarmos sós, permite-nos a ambição de pretendermos abranger o todo num instante. E logo de repente!
Estarmos sós, significa a vontade de estarmos ali. A sós.
Ainda que seja só às vezes, nós perante nós, pode ter a ver com o perfeito motivo de um suave abandono. Louco, mas suave. Tão suave como a macia farinha peneirada.
E o juízo? O juízo é bastante . Tão bastante, quanto a inevitável vontade de querermos ser felizes.
Não acredito que a solidão seja a tal dor física que dói por toda a parte e que lentamente nos tenta sugar a vida. Não. A solidão é um sentimento são.

monge

4.3.12

Os Deuses não podem fazer pelo Homem o que o Homem tem de fazer por si próprio.

monge

13.2.12


Gosto de sonhar. Sem dúvida!
Se nós lhe pertencemos, de certeza que antes de lá chegarmos, já ele sabia que nós iamos. O sonho.
Acordá-mo-lo sem querer, desejámo-lo sem o ter e acabamos por não o viver. O sonho.
Ao acordar, traz-nos o despertar, a vista do mesmo olhar.

monge

12.2.12

Com esdrúxulos sentimentos, alguém terá dito que todas as cartas de amor são ridículas. Tal como essa Pessoa, também eu escrevi cartas de amor, bilhetes de amor, poemas de amor. Só me faltou a coragem de entrar em cena com a minha sensibilidade à flor da pele para assim perpetuar a tinta da china o que, se calhar, hoje também julgaria ridículo.
Porque me perco quando vou de encontro aos livros e porque me encontro nas palavras sublinhadas, nas lembranças dos marcadores que cada um contem, deparei-me ontem com um bilhete de amor silenciosamente aconchegado n'O Inverno do Nosso Descontentamento  de Steinbeck. E como tudo veio por arrasto, esse livro trouxe-me tempos em que mansamente deambulava pelos alfarrabistas da Rua da Fábrica e da Rua do Almada, onde encontrava aqueles livros que me procuravam a mim. Livros lidos e usados, escritos ou rabiscados, amados ou odiados ... enfim, livros!
E nesse reencontrei este poema (o tal marcador), folha lisa e rasgada de um bloco com argolas, cujas letras a lápis não terão sido passadas a limpo pelos olhos de quem as deveria ter lido.

E fielmente diz assim:

Corre mansamente
O ribeiro pela encosta
Levando consigo e envolvendo
O sabor da tua boca.

Deixaste-me em silêncio
Deparando o meu amor
Partindo e chorando
E acalentando esta dor.
Pela encosta abaixo
Corre o ribeiro, meu amor.

A saudade bate forte
choro a tua ausência
olho as águas lentamente
do ribeiro, meu amor.

Passa o tempo, corre a vida
A tortura desvanece
À espera que chegue o dia
desse amor que me enlouquece.
Lentamente pela encosta
corre o ribeiro meu amor.

22.1.12


"Adoro o luxo. E o luxo não reside na riqueza e na ornamentação, mas na falta de vulgaridade"
Coco Chanel

Não é meu hábito julgar os outros, mas por mais voltas que desse, não consegui encontrar palavras para compreender o significado desta expressão.
Como pessoal vulgar que sou, e pelo que percebo, a falta de vulgaridade a que esta senhora se refere, assim como os artigos à sua marca associados, são no meu entender, "coisas" perfeitamente dispensáveis e curiosamente, para pessoas de elevada riqueza, que mais não servem a não ser satisfazer a ostentação.
Se uma mala de senhora da Hermès custa 100.000 euros ou se uma cama para cães de Carolina Herrera custa 660 euros, eu estou-me perfeitamente borrifando para quem pode esbanjar tanto dinheiro. Gasta-lo-ão obviamente porque podem. Mas não deixará de ser luxo. 
Curiosamente é em tempos de crise que os artigos de luxo costuma  disparar, e as grandes marcas de moda, todas elas com assento na rica baixa lisboeta dizem não sentir a crise, dizem até com certo orgulho que 60% da clientela é portuguesa. Ah!,e agora também as "damas" de Angola que se deslocam lá prepositadamente  para comprar sapatos a 950 euros ... o par.
Crises? What crises?
monge

luxo, s.m. ostentação da riqueza, magnificência, gala, fausto, sumptuosidade, pompa.
vulgar, adj. que diz respeito ao vulgo, comum, trivial, ordinário, frequente.


19.1.12


Naquele ir,
obrigação encarcerada,
estar a fugir
importava em nada.

Afastava-me sem proveito,
sem reparar nas emboscadas,
com as palavras no peito
e de costas voltadas.

Vencido pelo esquecimento
 e com um cigarro aceso,
abafava esse momento,
num sorriso adormecido e preso.

Todavia, tomba-se a esperança
sacudida e enamorada,
feita linguagem de criança,
afasta-se e acena já cansada.

monge

17.1.12

tempo

somos condicionados por um presente que é o futuro de um passado nosso

monge

15.1.12

poesia concreta


"Fazer da palavra um embalo
é o mais puro e apurado
senso da poesia."
SONO COLOQUIAL, Mia Couto, idades, cidades,divindades

Ao fim e ao cabo, a poesia para mim acabam por ser as palavras dos outros.  Encaro-a como um produto de linguagem onde se materializa a "sintese estética de todas as impressões" sentidas em mim. No entanto, a poesia tem uma virtude, a qual de uma forma reflexiva, nos permite perceber as questões da verdade e da falsidade, nas das palavras mas dos actos e das vontades dos homens. 
"Pretendo que a poesia tenha a virtude de, no meio do sofrimento e desamparo, acender uma luz qualquer, uma luz que nos é dada, não desce dos céus, mas que nasce das mãos e do espírito dos homens"
Ferreira Gullar
Posto isto, se não nos preocuparmos com o que nos rodeia, jamais poderemos fazer uma análise que faça coincidir os nossos sentimentos com a realidade.
"Por caminhos só rectos não sei ir.
Nos ínvios por que vou, não sei ficar.
Suspenso do passado e do provir,
Venho e vou!, venho e vou!, não sei parar.
Abri asas nas mãos para fugir,
E raízes nos pés para amarrar.
(Levava chão nos pés indo a subir,
Trazia céu nas mãos vindo a baixar...)
Eis, porém, que estes dons ultra-humanizam,
E os homens, meus irmãos, se escandalizam
E me espontam as asas e as raizes.
Assim se castram eles próprios, pobres!,
E tendo-se, mais vis, por mais felizes,
Se satisfazem com seus magros cobres..."
LIBELO, José Régio, Cântico Negro
 
monge

14.1.12

Atualidade

Bem haja quem que, com estas maravilhosas formas de arte, consegue obter um efeito cómico e ao mesmo tempo  suficientemenete capaz de despertar consciências. Qual bardo!

monge

20.11.11

Three little birds - Gilberto Gil


Com o devido consentimento de Bob, que lá de cima aprova estas manifestações de paz e esperança, tornadas maravilhosas pela arte.

monge

28.9.11

Patrick Watson - The Great Escape


I just listened to it.
It's really good!

monge

25.9.11

vamos brincar às beijocas?



Estavamos a jantar quando o Manel, cheio de entusiasmo, se lembrou de nos começar a contar:
- Hoje andei a jogar às beijocas!
Da minha meninice, jogos que metessem beijocas, só me vem à ideia o "verdade ou consequência", mas não estava ver putos com 6 anos com tanta "destreza" para o praticar.
Como a curiosidade era geral, lá lhe perguntei:
- E como se joga esse jogo, filho?
Com os olhos cheios de alegria, o Manel explicou-nos então o jogo:
- As meninas pintam os lábios com baton, nós começamos a correr e se  elas nos apanharem, dão-nos beijocas.
- Onde? Na cara?
- Não. Na boca! - rematou ele com seriedade.
- E então, já te deram muitas beijocas? - pergunto-lhe eu.
- A mim não. Eu corro muito!
Bem a partir daqui foi risota geral e já não conseguimos dizer ao Manel de forma séria a falta que isso lhe vai fazer para quando for grande e quiser umas beijocas.

monge

5.9.11

Stay in Queue

Aposto que já aconteceu isto a alguém. Frustrante!
Só porque amanhã vou às Finanças...
monge

30.8.11

possibilidades



o fim da utopia será a morte anunciada de um sonho antigo ...
 
precisaremos sempre de terra para enraizarmos a alma ...

aquele que é dono de si próprio tornar-se-á verdadeiramente rico ...

ser humano sentir-se-ia muito mais feliz tornando-se mais útil ...

a sede de viver é imensa ...

viver fora do tempo ...

Sonhar é vital!
monge

25.8.11

The Way


Com argumento, direção, produção e participação de Emílio Estevez e com Martin Sheen como ator principal, este filme narra a história de um pai americano que viaja até França para recuperar o corpo de seu filho, que morreu durante a viajem "El Camino" de França até Santiago de Compostela. A trama do filme enrola-se num misto de ação, aventura, comédia e drama.
Quem já fez o Caminho, sabe que não se trata simplesmente de um passeio. É uma experiência que afeta de maneira diferente cada peregrino. Embora o motivo principal para se fazer o Caminho seja de ordem religiosa, há muitas outras razões para fazê-lo enquanto caminheiro, sucedendo o mesmo com os efeitos provocados. Trata-se mais de uma jornada pessoal em que intervêm  fatores físicos, psicológicos, simbólicos e até telúricos.
Eu fi-lo por tudo isso! Altamente recomendável, tanto o Caminho como o filme.
monge

22.5.11

The National - Fake Empire


Mais uma bela sugestão do amigo Nuno.
Com uma letra nitidamente dirigida aos tempos americanos da governação de Bush (poder-se-á ver num outro video clip). Li algures que The National terão já atingido o seu auge e maturidade. É possível que os tenhamos por cá, nalgum dos nossos festivais. Era uma ideia.

monge

21.5.11

Não vivo muito longe do centro da cidade, mas na ida e na volta ainda se gasta quase uma hora de caminho, o qual sendo feito por percursos alternativos, até se pode tornar agradável e interessante.
Porque decidi privilegiar as caminhadas, porque decidi poupar em combustível e estacionamentos, ontem desloquei-me ao centro para tratar de assuntos na seguradora e nos correios. Sabendo que os correios fechavam mais tarde, fui primeiro à seguradora. Como andava sem seguro de carro há já alguns dias, em vez de me passar nova declaração provisória, o funcinário propôs-me o pagamento da prestação do mês de Maio e assim receberia de imediato a carta verde. E não é que, a prestação acertou em cheio com o dinheiro que tinha no bolso, tendo ficado a dever ainda um centimo ao dito senhor? Ele há coisas!
Bem, sem dinheiro, já não pude ir aos correios, despachar com urgência as pilhas para o aparelho auditivo de minha mãe. Lá me pus a pé novamente a caminho de casa, sabendo que teria de lá voltar.
Na cidade onde vivo, há ruas em que os passeios permitem que passe apenas uma pessoa.
Caminhando com passo apressado e o pensamento pouco companheiro, aperecebo-me de outro transeunte vindo em direcção a mim, e inevitavelmente deparamo-nos com aquela habitual situação em que ambos hesitamos, mesmo sem nos olharmos. Eu desço o pé do passeio, ele imediatamente desce também o pé do passeio, logo eu retorno ao passeio e ele sai do passeio para me deixar passar a mim. Ao passar por mim, o senhor alto e jovem, educadamente disse:
- Peço desculpa. Tenha uma boa tarde.
Apanhado de surpresa, nunca esperei que me pedisse desculpa, muito menos que me desejasse boa tarde. No entanto fê-lo.
Isto durara pouco mais de um segundo. Aquele senhor não perdera tempo a demonstrar talvez o orgulho da sua humanização. E eu ganhara talvez um pouco mais vontade de viver, de saber que neste mundo ainda há motivos pelos quais vale a pena existir.
Ontem esteve um dia radioso!

monge