20.3.10

Presente!

Já me penitenciei demasiado por tamanha ausência, mas a verdade, e curiosamente, tenho estado sempre presente.

Este regresso, sem dúvida, que se deve ao dia de ontem, mas não só. Senão vejamos.

Uma colega, que, apesar das suas formas cheiinhas, sempre conseguiu ser elegante e graciosa. No entanto, de há um ano para cá, emagreceu cerca de oito quilos, o que a tornou exponencialmente mais elegante, contudo sempre a mesma mulher. Como partilhavamos bons momentos de conversas, sobre leituras e outros temas interessantes, obviamente que a palavra dieta veio ao de cima. Apesar de não ser gordo, sou um bom garfo, e por tal, uma vez que a minha coluna vertebral é condómina de uma cifose, uma escoliose, e uma hérnia bí ... qualquer coisa, o ortopedista tem-me vindo a alertar: "-Evite engordar um quilo que seja".

Com estas palavras na cabeça, toca de perguntar à Isabel qual foi a dieta seguida para conseguir abater o tal peso. Apressadamente, e de uma forma natural, logo me disse:" -Eu não faço dieta. Eu não deixei de comer nada daquilo que comia, simplesmente passei a estar mais presente à mesa". E com essa me fiquei. Também eu pensava que estava sempre presente à mesa. E estava, mas era para consolar o palato e afagar o bandulho com duas palmadinhas.

Mas tenho vindo a pensar muito nisso: em estar presente. Sempre. Com todos. Em todo lado. Evitar esquecer-me, distrair-me ou desviar-me de onde preciso e quero estar.

E ontem, por ser o dia do Pai, que das mais variadas formas é festejada e relembrada, exigia-se a minha presença (era a minha vez) na escola do Manel para contar uma história à turma. A história que escolhi "A ovelhinha que veio para o jantar", versava o tema da amizade, era a versão romântica de uma velha que consegue eternecer o esfomeado coração do lobo mau, deitando-se-lhe no colo, com carinhos e beijinhos.

Sentado à índio, à altura dos meus ouvintes, acabada a história, vi-me de repente rodeado de alguma petizada que tentava carinhosamente encarrapitar-se-me nas pernas e pedindo, como só eles sabem pedir: "-Ó papá do Manel, conta outra vez!" Irrecusável!

Estava ainda combinado, que nesse dia seria o pai ir buscar os filhos à escola. Lá fui. Então a surpresa era: o pai sentar-se junto do filho, e ambos disfrutarem de um lanchinho composto por bolo e chá. Nunca tinha visto o Manel beber chá e nunca um chá me soube tão bem.

À noite, ofereci-me uma ida ao teatro, ver a peça "Reféns", pelo Teatro BRUTO. Ao chegar a casa, e porque por baixo de minha casa há uma café aberto até às 2 da manhã, vejo o carro de um amigo e resolvi ir beber um copo com ele. É um amigo recente, um sociólogo cultíssimo e solitário, a quem a vida já amadureceu. Se convivo com alguém culto, tento falar de cultura. E lá falámos de filmes, de livros, de viagens... Num qualquer espaço morto, saiu-me: "- Lá se passou mais um dia do Pai". Ao que o meu amigo retorquiu."- Não sinto necessidade de falar nisso". E também não senti curiosidade que o não quisesse ter feito. É que eu também não tinha necessidade de falar disso. É-me difícil falar de algo, do qual não tenho ideia. De quem não soube estar presente.

monge

4 comentários:

Blue Eyes disse...

Olá Monge:

Longa a tua ausência... mas 'brindada' com uma bonita história de afecto! Dares aos teus filhos o que não tiveste para ti é uma 'nobreza' porque nem sempre é fácil dar aos outros o que não nos souberam dar a nós... especialmente quando de afectos se trata!

Emocionei-me com as palavras que me 'deixaste'... emocionei-me com as palavras que aqui deixaste! Obrigada por teres vindo aqui neste dia partilhar a tua história... obrigada por neste dia me deixares 'feliz' por saber que a memória do meu Pai também se perpetua nos amigos.

Desta vez espero que seja um até breve...

PS: Ainda não te deixaste enredar nas 'malhas' do Facebook?! ;)

monge disse...

olá blue eyes

mas acredita que foi uma ausência sentida ...Sim, e porque de afectos se trata, devemos perpetuar em nós todos os momentos afectuosamente partilhados com aqueles de quem gostamos ... sempre.

Desta vez é um até breve, de certeza.
Quanto ao Facebook, e como diria uma amigo, estou agora a começar a descobrir os manípulos.

Bjs

duarte disse...

olá companheiro monge
curiosamente nem me tinha lembrado de tal coisa. a minha , que já é crsecidita, já n liga muito a essas coisas. eu , vivo, por vezes no mundo da lua, e parto para aventuras intrinsecas, que me afastado do presente.
mas amigo monge, tens nos teus rebentos o espelho do carinho e amizade, que dedicadamente e incansávelmente dás. Isso é o que mais importa, isso é que é presente.
abraço do vale com cheiros a almada e lembrando sempre que o tempo só é frio, quando nos deixamos apanhar por ele.

monge disse...

olá companheiro duarte,

já não adianta martirizar mais o tempo, pois esse excomungado já foi te tal maneira escalpelizado ... Também eu faço parte dos aluados, no entanto, na condição de pai, esforço-me por não me esquecer de desperdiçao o tempo. Pertence-nos tal.

abraço p'ró vale com todas as sensações do almada