15.6.12

Bom dia me dê eu

Quando percorremos algumas aldeias do nosso interior transmontano, frequentemente somos contemplados com um acolhedor e ancião cumprimento: " Bons dias nos dê Deus!" 
Se por um lado nos conforta, por outro empurra-nos o espírito para  divagações mais profundas acerca do seu verdadeiro significado e da forma meiga e suave da boa intenção de quem o profere.
Embalado pela música que levava nos ouvidos (seja para que lado for que ela nos consegue levar), chego ao ginásio cheio de ganas para enfrentar  os  desvarios com que as distrações gulosas nos conseguem ludibriar. Sem reparar em mim, acerto a altura do assento da imóvel bicicleta, sento-me, ergo os olhos para o espelho que forra a parede dianteira e educadamente cumprimento-me:
- Bom dia!
Poder-me-ia ter rido, mas não foi essa a reação primeira. 
Também esse cumprimento repentino despertou em mim outro eu. Esse momento, foi motivo mais que suficiente para um poderoso exercício de reflexão, o qual permitiu sair de um existir monótono e difuso, para encarar destemidamente as promessas do futuro. Isso trazer-me-ia mais tarde, outro momento do existencialismo sartriano, em que um simples seixo frio apertado na mão, nos consegue dizer que estamos vivos. 
Muito provavelmente, serão estes momentos que nos proporcionam alguma consciência.

monge

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