21.5.11

Não vivo muito longe do centro da cidade, mas na ida e na volta ainda se gasta quase uma hora de caminho, o qual sendo feito por percursos alternativos, até se pode tornar agradável e interessante.
Porque decidi privilegiar as caminhadas, porque decidi poupar em combustível e estacionamentos, ontem desloquei-me ao centro para tratar de assuntos na seguradora e nos correios. Sabendo que os correios fechavam mais tarde, fui primeiro à seguradora. Como andava sem seguro de carro há já alguns dias, em vez de me passar nova declaração provisória, o funcinário propôs-me o pagamento da prestação do mês de Maio e assim receberia de imediato a carta verde. E não é que, a prestação acertou em cheio com o dinheiro que tinha no bolso, tendo ficado a dever ainda um centimo ao dito senhor? Ele há coisas!
Bem, sem dinheiro, já não pude ir aos correios, despachar com urgência as pilhas para o aparelho auditivo de minha mãe. Lá me pus a pé novamente a caminho de casa, sabendo que teria de lá voltar.
Na cidade onde vivo, há ruas em que os passeios permitem que passe apenas uma pessoa.
Caminhando com passo apressado e o pensamento pouco companheiro, aperecebo-me de outro transeunte vindo em direcção a mim, e inevitavelmente deparamo-nos com aquela habitual situação em que ambos hesitamos, mesmo sem nos olharmos. Eu desço o pé do passeio, ele imediatamente desce também o pé do passeio, logo eu retorno ao passeio e ele sai do passeio para me deixar passar a mim. Ao passar por mim, o senhor alto e jovem, educadamente disse:
- Peço desculpa. Tenha uma boa tarde.
Apanhado de surpresa, nunca esperei que me pedisse desculpa, muito menos que me desejasse boa tarde. No entanto fê-lo.
Isto durara pouco mais de um segundo. Aquele senhor não perdera tempo a demonstrar talvez o orgulho da sua humanização. E eu ganhara talvez um pouco mais vontade de viver, de saber que neste mundo ainda há motivos pelos quais vale a pena existir.
Ontem esteve um dia radioso!

monge

3 comentários:

Blue Eyes disse...

Das coisas que mais sentia falta quando fui estudar para o Porto era que ninguém me dizia ou respondia um bom-dia ou boa-tarde quando chegava a algum lado... estranhava e estranho mesmo como era/é possível viver assim!

Na aldeia onde vivemos 'agora' é como um regresso ás origens... toda a gente se cumprimenta... numa simples caminhada ninguém passa sem dizer 'bonjour' e reencontrei aqui a 'alegria' de um bom-dia ou de uma boa-tarde consoante a hora do dia... são hábitos que nunca deviam se perdidos!

Com um até breve caro amigo

monge disse...

Acho que sim, Blue Eyes

além de um bom hábito, julgo que é algo que define bem a pernalidade de uma pessoa.
Mas não se pense que é uma questão de cultura, é pura e simplesmente uma questão de boa educação. No meu dia-a-dia, em que lido com pessoas, supostastamente cultas, ainda me deparo com alguns que passam sem dizer "água vai" ... Vê lá que até o meu carro, quando o ligo cumprimenta-me com "Hello" e quando o desligo despede-se com "Bye-Bye". Será um carro culto?
Nada melhor do que lidar com aquela simples humildade das nossas aldeias transmontanas, onde quando dizes "Boa tarde", ainda se ouve como resposta um "Boa tarde nos dê Deus". Maravilhoso.
E ai, como bem dizes, sabe bem reencontrar alguma alegria para as nossas vidas.

Até breve, amiga.

Anónimo disse...

olá monge.
por acaso essa situação do, ora desvio-me eu ora desvias-te tu, costuma deixar-nos um tanto embaraçado... o que é de estranhar mesmo depois dessa situação, é haver pessoas com uma nobreza de carácter suficiente para não deixar de ser humano, diminuindo essa parte de bicho que existe em todos nós.
Sabe bem, sim senhor, no meio duma terra que desconhecemos receber essas boas horas. O pior é estarmos num local que conhecemos de cor, e recebermos as mesmas boas horas, sabendo que nelas reside uma boa carga de hipocrisia... prefiro que sigam caminho, e que lhes caia o relógio em cima das fuças.
abraço do almada