O CLAUSTRO DO SILÊNCIO
Sabendo do meu interesse pelo tema dos Templários e pela Ordem de Cister, logo a amiga Sofia se prontificou para me emprestar este magnífico livro.
Trata-se de um romance histórico que se situa no conturbado período das Invasões Francesas e da extinção das ordens religiosas, debruçando-se essencialmente sobre o Mosteiro de Alcobaça, a casa-mãe cistercienese no nosso país.
Não me vou alongar muito mais sobre o tema porque, efectivamente, perdi-me. Perdi-me no tempo, perdi-me no espaço, perdi-me na forma e no conteúdo da narrativa. Tal erro vai obrigar-me a reler o livro,obviamente. Mas não me perdi de todo: caminhei sempre junto do narrador.A cada passo, empurrado pela força inconsciente da vontade, apercebia-me de uma revigorante sensação que me obrigava a estar atento o tempo todo, curioso e pronto para refletir cada vez mais a qualquer momento.
Nunca me lembro de ter lido um livro em que o narrador fosse tão reflexivo, tornando-se uma personalidade em si mesmo. As suas reflexões tornaram muito mais sedutora a viagem, oferecendo boas oportunidades para explorar da melhor maneira os conflitos da alma, sem perder de vista aquilo que nos move.
Sem me parecer um puro exercício de escrita, a sua postura parece tornar-se decisiva para interpretar e analisar as emoções humanas, que de uma forma natural e espontânea, se direcionam para um lugar que sempre pertenceu à razão.
monge
Aqui ficam então alguns desses momentos:
"A ligeireza da politica e a dos
amores vadios são duas faces da mesma superficialidade. Ou vaidade. Todos os
homens poderosos o são, vaidosos e superficiais, no julgamento dos outros,
tidos como inferiores por natureza."
"Mas toda a instituição tem o fim marcado
quando adulterou a razão de ser."
"Que a vontade de ser nos leva a
construir uma realidade à medida de nós próprios."
"[…] a verdade, quando usada e
subvertida, deve sê-lo com a subtileza de boa aparência. Doutro modo, a ficção,
que é a mentira vestida de boas vestes, chega a sobrepor-se à própria verdade,
deixando-a na penumbra da conveniência."
"Todos somos construtores de
Tempos ou parasitas do tempo."
"O desespero e a raiva são a forma
de ajustar contas com o lado ingrato da vida."
"Liberdade é a dimensão da
realização do homem. Meio caminho entre o que se tem e o que se cria."
"O regresso faz-se sempre em
direcção ao futuro. Regressar ao passado é colocá-lo, a ele ou a nós, fora do
tempo."
"As palavras são excessivas para
gente sábia."
"O caminho de cada um é cada um
que o faz, no caminhar dos dias."
"Tudo o que é complicado não é
útil. E tudo o que é útil é simples."
"Como se alma fosse um chão
fértil, lugar onde se agarram as raízes do sentimento, mesmo quando o vento
levou para longe as folhas, as imagens, e o tempo dispersou os sons."
"Todos os caminhos devem ser
ousados e prudentes."
"A maior cegueira não é a da luz,
mas a da ausência do sentido das coisas."
"O pensamento é um estranho
iluminar do espírito que some para sempre, quando a destruição o cobre de
esquecimento."
"O tempo é um livro de leitura
lenta que se vai mostrando nas dobras de um segredo permanente."
"Perdeu-se a capacidade de falar
com os mitos. Quando assim é perdemos o rasto do infinito. Agora tudo querem
fazer pela razão. Pensam que avançam mais. É engano. A raíz do homem está
mais além. A razão? Tudo são caminhos dos muitos caminhos que são o caminho do
homem. Mas é preciso ouvir a razão. Doutro modo, gera-se a tirania da
sem-razão."
"O símbolo é aquela parte
invisível da realidade que ultrapassa o tempo."
"Os nós que atam os afectos e os
ódios ficam do outro lado da consciência. Mas são eles que comandam os actos."
"A vida é um processo muito mal-entendido.
Todos estamos numa jaula de limite."
"Só é real o que está para além da
limitação. O resto é aparência."
"A noite. Essa vida feita de
ausência."
"O pensamento é como um pássaro
volúvel. Esquece facilmente o seu percurso de voo."
Nota: Esta obra venceu o Prémio Virgílio Ferreira 2001.