4.5.08

A CRIANÇA E A VIDA


"Companheira do sol e das raízes, cheguei à grande cidade.
Numa mão levava o diploma, na outra o medo. O resto, era a história antiga da minha solidão e da minha esperança"
É assim que começa este fantástico livro de Maria Rosa Colaço que, mais não é do que um emocionante relato das suas primeiras experiências pedagógicas com o qual pretende homenagear os seus "meninos" vindos de "sabe-Deus-donde". Estes meninos, "escória" que o director lamentoso lhe entregou, "traziam nas mãos, em vez de malas e livros, folhas de plátano e ramos de amendoeira florida" e o Outono "dourava-lhes os cabelos".
Estes meninos eram "sementes vivas da mais autêntica liberdade" e os quais "pediam para fazer poemas, como quem pede o pão da fome"

o amor é um pássaro verde
num campo azul
no alto da madrugada
victor moreira, 9 anos
a morte é sossego e flores
eu acho que ela é um homem amarelo
eu, se visse a morte ao pé de mim, atirava-me
duma janela abaixo: antes queria morrer sozinho
victor moreira

vou viajando num barco de morte
vou andando sem andar
não tenho passaporte
nem tenho luar
a.j.

os meus pés são de flores
eu, uma vez, pisei o sol: mas não o magoei
porque os meus pés são pequeninos
victor pinho, 8 anos

O amor é como duas borboletas que estivessem sobre uma rosa, a mais linda de todas do jardim.
O amor tem que haver.
O amor são duas estrelas a brilhar.
A rosa e o sol são o amor.
O amor é a poesia.
O amor é não haver polícias.
Inácio cruz, 10 anos

Usando este exemplo como motivação, também eu sempre que abordo o Texto poético, tento levar os meus alunos pela aventura da poesia. Aguardemos pelo resultado e veremos então se das sementes lançadas florescem outras liberdades.

Colaço, Maria Rosa. A CRIANÇA E A VIDA. 12ª edição. Edições Editau.

A primeira edição destes trabalhos remonta a 1960.Acrescente-se que esta colectãnea não é só composta por poemas, mas também por outras composições e também por sugestões de que "O que é ...?" (Delicioso).

10 comentários:

1/4 de Fada disse...

Ofereceram-me este livro quando eu tinha uns 9 ou 10 anos e eu adorei-o. Ainda o tenho, já bem amarelo, deve ser uma das primeiras edições. Obrigada pela recordação.

LeniB disse...

Vim até aqui porque uma Fada me trouxe.
Gostei do blogue, vou voltar.
As crianças são verdadeiros construtores de metáforas!
Boa semana

Anónimo disse...

Cheguei aqui, porque me deixei conduzir por uma Fada.
Este post lembrou-me tempos muito distantes.
Vou voltar, porque gostei do que li.

Blue Eyes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Blue Eyes disse...

Olá Monge,

Obrigada pela partilha, não conhecia este livro!
De facto, por vezes, de onde menos se espera é que surgem as verdadeiras lições...acredito numa aprendizagem com base na vivência (não apenas e só aquela que nos 'impingem' dentro de uma sala)...e através dos olhos das crianças alcançamos horizontes maravilhosos, que só a pureza de espírito e a ingenuidade conseguem alcançar.Parabéns por incutires nos teus alunos o gosto pela poesia e que melhor de fazê-lo,'fazendo-a'!

Aos amigos não cobramos as ausências...fica bem amigo.

De dentro pra fora disse...

A simplicidade e inocência nas palavras do nosso futuro...as crianças..

De dentro pra fora disse...

A simplicidade e inocência nas palavras do nosso futuro...as crianças..

Anónimo disse...

Não há dúvida que o melhor discurso é aquele que, claro, puro e preciso, nos recorda o que somos e o que fomos... nos leva a reviver as nossas aventuras!

Anónimo disse...

Enquanto vou aventurando
deixo a janela aberta
p´ra fugir do homem amarelo.
Aberta para um dia poder voar...
regressar junto das recordações
daqueles que tanto me amaram.

avelaneiraflorida disse...

Amigo Monge,

também por estes dias deixei um post com uma das poesias deste livro!!!!!
Agora que aqui chego...reencontro-o!!!
Que bom!!!!
valerá sempre a pena retornar a ele e às palvras e sentires que nele nos foram deixados!!!

bjkas!!!