22.8.07

O Carteiro ... do meu descontentamento

Todos nós sabemos que a praia não é nenhum eterno descanso. Há sempre algo, que de uma forma ou outra, se pode tornar incomodativo: seja o vento desagradável, seja a pegajosa areia ou os barulhos circundantes. Putos a gritar, bebés a chorar, conversas paralelas, música a tocar, ainda vá que não vá. Agora, um carteiro de férias?! Garanto-vos que é deveras insuportável!
Numa outra praia que costumo frequentar, pequenina e bem apessoada, certa manhã, ainda com alguma indolente sonolência, lá se cumpriu o ritual de ajeitar o nosso cantinho. Sombra espraiada, toalhas estendidas, corpos oleados, estava na hora da leitura das notícias. Mal começamos a deitar os olhos sobre as folhas do jornal, eis que toca um telemóvel mesmo à minha esquerda.
O que se passou a seguir é de um assombroso realismo!
Era então um solícito carteiro que se encontrava de férias e de muito bom grado, não parava de dar indicações minuciosas sobre as moradas dos destinatários ao seu substituto, mas tudo isto com uma enervante voz megafónica.
- Segues sempre e quando chegares ao fim da recta, é ai, ao pé dos bancos de madeira, onde as pessoas se costumam sentar (pormenor delicioso).
Lá se iam seguindo as intermináveis indicações, e por mais que não se quisesse não podiamos deixar de nos imaginar sentados ao lado do carteiro substituto a percorrer todos os recantos lá para os lados de Santiago (?).
- Vá lá, diz mais!
- ...
- Na, não incomodas nada. (Nadinha!)
Já a paciência começava a dar sinais de saturação, quando de repente:
- Ao passares a ponte, viras no cruzamento à esquerda e é logo a seguir ao café daquela boazona.
- ...
- Sim, aquela mamalhuda.
Boazona mamalhuda?? Credo! Não há imaginação que suporte tamanha descrição. Basta! Vamos à água para ver se arrefecemos os ânimos, ou ainda desgraçamos a vida. Pois a vontade era arrancar o guarda-sol e dar umas valentes bordoadas àquele carteiro.
Ainda houve um dia ou outro que voltamos a dar de caras com o dito senhor, mas apesar de pequenina, lá conseguimos arranjar um cantinho ... na outra ponta da praia.
monge

2 comentários:

avelaneiraflorida disse...

Caro monge,
cada um tem o seu "Calvário"... desta vez calhou-lhe um carteiro metafórico!!!!!

Da próxima vez é melhor fazer uma antevisão do local onde se vai "aterrar" pois pode sair"na rifa" bem pior...

Boa sorte, para o resto das FÈRIAS!!!!

monge disse...

ahahah...fizeste-me rir, amigo monge, com essa "impotência" perante tamanho realismo, ao falares do "teu" carteiro. Uma autêntica anedota para quem vive o incómodo com paciência e humor. Foste sensato não lhe carregares com o "sombreiro"! Há que estimar estes metafóricos transcendentes em vias de extinção (em tempos de internetes!) Confesso a minha ignorância mas ainda não vi o "carteiro do nosso contentamento". O do "nosso descontentamento" já: Várias vezes!... quanto ao Pablo Neruda, não há nada a acrescentar senão que é Imenso!

Obrigado amigo e companheiro,
e a todos,
abraço expresso
eremita