20.2.11

"Quando nasci, comecei logo a chorar pois não conhecia ninguém."


Duas propostas de trabalho: biografia de autores de literatura infantil e autobiografia de cada aluno.
Assim, foi com aquela magnífica e ubíqua frase que um aluno começou a sua autobiografia.
Ora, aí está uma boa razão para alguém se sentir descontente quando desagua neste mundo pela primeira vez!
Para quem, de repente, se tem que ausentar do aconchego de um útero silencioso e suave, esse refúgio bom, compartilhado por um terno cordão umbilical sem fim e rodeado de um abençoado amor, vir ao mundo poderá ser a ruptura com a solidão de estar só.
Esse terrível abandono, associado ao receio de dar de caras com uma realidade emaranhada de verbos mal conjugados e de filosofias ímpares, poderá tornar-se uma questão de absoluta emergência que há tanto tempo nos espera.
Aparecer no verdadeiro momento em que se vê a luz na boca do mundo, animados pela vontade de ir em frente, seguimos em direcção a subjectividades coloridas por um sol quente de um amarelo infinito, logo percebemos que temos lugar no futuro. Estará cumprido o nosso destino. Apesar de todas as ironias da nossa descrença no mundo, é-nos permitido tal primazia contemporânea. Nosso destino é viver e viver é nascer a cada instante.
Salvador Dali - Criança geopolítica observando o nascimento do homem novo.
monge

1 comentário:

Anónimo disse...

Todos já tivemos perdas nas nossas vidas. No nosso nascimento, por exemplo, ganhamos a luz mas perdemos o conforto e a segurança do útero materno.

Enfim, talvez seja esse nosso maior objetivo: reencontrar o conforto e o aconchego que nosso subconsciente já conheceu. Assim sonhamos em viver a vida e, ao mesmo tempo, ir na direção desse conforto.

Procuramos por braços que nos afaguem, nos protejam e alguém que nos acalente no conforto da cama. Buscamos, enfim, o amor. Se perdermos essas condições, a dor da solidão será difícil de suportar.